Caso real de uma mãe que começou a usar a ferramenta Momento Especial
“Fazia tempo que eu não via o meu filho assim: brincalhão, alegre, leve, falante, curioso, carinhoso, cuidadoso…foi surreal….muito legal Marcelo, muito, muito legal!” (Relato da Roberta, mãe do Ricardo que tem 7 anos)
24 horas antes havíamos trocado as seguintes mensagens:
Roberta: “Marcelo, a psicopedagoga da escola e a psicóloga do Ricardo. estão dizendo que eu preciso levá-lo ao psiquiatra."
Eu: “Ele não precisa de medicação. Ele está passando por um projeto emocional. Isso acontece quando emoções fortes, acumuladas no passado, estão vindo à tona. Elas estão vindo à tona pois você começou a mostrar para ele que é seguro expressar as emoções para você.
Porém, algumas vezes, vem tudo de uma vez e os adultos ao redor da criança ficam muito assustados. Ela capta esse medo dos adultos e ao invés de extravasar as emoções ela começa a ter medo do que está acontecendo com ela.
Na minha perspectiva, chorar, gritar, suar, tremer, são reações naturais do organismo para restabelecer o equilíbrio emocional. Quando esse extravasamento é forte, com episódios todos os dias e sem a presença de vocês, precisamos intensificar o uso das ferramentas de conexão:
o Brincar-Escutando,
o Momento Especial e
a Escuta das Emoções.
Você vai fazer isso todos os dias dessa semana. Tenho certeza que você verá resultados muito rapidamente.”
Quando escrevi a última frase eu não sabia que os resultados viriam em 24 horas, mas foi isso que aconteceu. Continue lendo para entender o contexto, o processo, as ferramentas usadas nas últimas semanas, que ajudaram o Ricardo e a Roberta.
Ricardo é uma criança de 7 anos. Vai na escola das 8:00 as 15:00. Tem um irmão de 5 anos. Os pais são executivos que trabalham de maneira híbrida (em casa e no escritório). Mesmo com trabalhos muito demandantes, os pais fazem de tudo para estarem com as crianças o máximo possível.
Há algumas semanas Roberta me procurou pedindo ajuda para lidar com o filho mais novo. Começamos a fazer sessões semanais e acompanhamento diário pelo whatsapp. Praticamente todos os dias ela me manda entre 5 e 10 minutos de áudio contando sobre a dinâmica do dia, as dificuldades e as dúvidas. Eu respondo em até 24 horas sugerindo ferramentas para ela usar bem como feedbacks sobre as situações ocorridas. Após um mês de trabalho mais ou menos o foco mudou do filho mais novo, para o Ricardo, que começou a ter explosões de raiva.
Expliquei que Ricardo estava sobrecarregado de emoções (raiva, tristeza, medo, dor) e, por não ter um espaço seguro para expressar e extravasar essas emoções, ele estava tendo estes episódios, incluindo agressões ao irmão menor, aos colegas no futebol. Além dos ataques de raiva ele estava mais teimoso e desobediente. Ele estava pedindo ajuda!
Sugeri que Roberta começasse a fazer duas práticas:
A primeira consiste em olhar para o filho ou para qualquer criança com o mesmo amor que as olhamos quando são bebês. Sabe aquele olhar apaixonado, demorado e maravilhado com o milagre de termos um filho ou de vermos um ser que chegou há pouco tempo no mundo? Esse mesmo. Ela deveria fazer isso por 5 minutos pelo menos.
Para que os pensamentos sobre trabalho e outras tarefas não invadissem Roberta, a dica era prestar atenção aos detalhes do Ricardo. Por exemplo, olhar para o desenho da orelha dele, para a forma como o cabelo cai na testa, para a forma como ele mexe o lábio. Esses detalhes nos ajudam a focar.
A segunda prática era colocar limites de forma calma, sem brigar, convencer, chantagear ou ameaçar e então escutar o choro, os gritos que aparecerem.
Roberta, que me disse ser uma aluna nota 10, começou a fazer as práticas. Apesar de serem princípios e práticas que nunca tinha ouvido de outros terapeutas, ela resolveu apostar. Um dia ela me mandou um áudio relatando o seguinte:
“Ricardo tinha tomado banho sozinho e depois foi a vez do irmão que teve ajuda do pai para tomar banho. Ricardo começou a chorar e dizer que era injusto pois o pai não ajudou ele.”
Antes do nosso trabalho, Roberta teria tentado explicar, distrair ou chantagear Ricardo para que ele parasse de chorar. Mas agora ela ficou escutando o choro dele. Como ela ainda está aprendendo e ganhando espaço emocional para ouvir as emoções do Ricardo, ela ofereceu uma explicação no meio do processo dizendo que o irmão era mais novo e que na idade dele o Ricardo também tinha ajuda do pai, porém logo ela voltou a silenciar e apenas escutar o choro.
Depois de alguns minutos chorando, Ricardo parou, olhou para a mãe e disse:
“Mãe, me mostra aquilo que você queria me mostrar antes?”.
Ou seja, após extravasar suas emoções ele se conectou com a mãe, lembrou que ela queria mostrar algo para ele e ficou curioso e atento. Quando descrevi o processo acima para Roberta ela respondeu:
“Marcelo, nossa relação está se aproximando muito!”.
Se estava tudo melhorando, por que então Ricardo começou a ter mais episódios de raiva, de medo, com sensações físicas intensas?
Exatamente porque Roberta estava mostrando para ele que ela está disponível para ouvir e testemunhar todas as dores dele. Antes do nosso processo, ela acolhia, acalmava, distraía, impedindo que as emoções jorrassem. Agora ela se coloca à disposição e escuta as emoções que ele precisa colocar para fora.
Mas de que dores você está falando, Marcelo? Estou falando das emoções normais que todos nós temos diariamente. No dia a dia de uma criança, ela:
Arranha o joelho quando cai no chão e sente dor, medo e às vezes vergonha
Fica triste pois sente saudades do pai ou da mãe que estão viajando
Fica com raiva por que pegaram o brinquedo favorito dela na escola
Todas situações normais, cotidianas. Qual é o problema de sentir essas coisas?
Nenhum, desde que a criança possa efetivamente sentir e expressar as emoções. Porém isso é desencorajado em nossa sociedade. Quem nunca ouviu: “para de chorar, tá tudo bem, já vai passar, não tá doendo tanto” ou “para de chorar, se não eu ligo para os seus pais e digo que você não está se comportando” ou “não fica chateado com o amigo, depois você brinca”, ou “se você parar de chorar eu deixo você ver desenho animado hoje”. Enfim, explicações, chantagens e ameaças que impedem que a criança expresse e sinta as emoções até o fim.
Agora imagine essas pequenas emoções acumuladas ao longo de dias, semanas, meses e anos. É esse acúmulo e a impossibilidade de extravasar as emoções que começam a gerar sintomas como os que Ricardo estava apresentando. E quando ele recebeu a permissão para expressar as emoções, elas vieram como as águas de uma barragem que se rompeu.
Nesses casos, é preciso dar uma atenção especial à criança e intensificar os momentos de infusão de amor e acolhimento das emoções. Para fazer a infusão de amor e dar a sensação de que a vida é boa, usamos as ferramentas Brincar-escutando e Momento Especial. Para o acolhimento das emoções utilizamos o Limite e a Escuta das Emoções. Vamos ver como Roberta utilizou essas ferramentas quando as explosões de raiva e medo aumentaram.
Quando Ricardo foi mandado para a diretoria pois estava atrapalhando a aula, ele teve um episódio onde começou a chorar muito e tremer descontroladamente. Parecia um ataque de pânico segundo a psicopedagoga da escola. O marido de Roberta conseguiu acalmar Ricardo pelo telefone.
Roberta me mandou uma mensagem assustada. Em primeiro lugar pedi para ela se conectar com o que estava acontecendo. Ela estava em um evento importantíssimo. Ela entrou no banheiro para ter privacidade e eu pedi que ela usasse a ferramenta chamada A Grande Mãe desenvolvida por Phil Stutz. O objetivo das ferramentas do Método Stutz é nos tirar da nossa cabeça e nos conectar com nosso corpo e nossa intuição. Isso fez com que Roberta chorasse e extravasasse suas próprias emoções. Agora, mais conectada, Roberta ouviu sua intuição que disse: “Saia do evento e vá busca-lo”. Ela seguiu a intuição e passou a tarde com Ricardo. No dia seguinte, estavam em dúvida se ele deveria ir à escola, mas decidiram que sim.
No dia seguinte, quando Ricardo estava na escola, eu e Roberta tivemos nossa sessão semanal via Zoom. Em determinado momento ela começou a se emocionar enquanto relatava o que estava acontecendo com Ricardo e chorou muito. Eu então fiquei testemunhando e escutando suas emoções. Todos nós precisamos extravasar de vez em quando. Quando eu fiz minha formação em Parenting by Connection no Hand in Hand Parenting tive que fazer um ano de sessões semanais de extravasamento com um Parceiro de Escuta. Eram 15 minutos de choro toda semana. Haja emoção!
Depois de escutar as emoções da Renata, sem interferir, sem julgar, sem aconselhar, percebi que estava na hora de conversarmos sobre o projeto emocional do Ricardo. Então combinamos que ela e o marido se revesariam para fazer 15 minutos de Momento Especial todos os dias (cada um em um dia). Além disso, iriam usar todas as oportunidades para Brincar-escutando e Colocar Limite e Escutar as Emoções.
Naquela mesma tarde, Roberta colocou tudo em prática. Veja como ela fez o Momento Especial:
Colocou um alarme de 15 minutos
Disse para Ricardo que ela iria fazer tudo o que ele queria e
Garantiu que não precisaria atender o telefone, o interfone, o outro filho ou o marido.
Quando ela disse que iria fazer o que ele quisesse, ele abriu o maior sorriso que ela viu na vida. Ricardo disse que queria comer o pote inteiro de macarrão que estava na geladeira. Detalhe: ele tinha acabado de jantar. Roberta, como boa aluna, disse sim. Ele pegou um fio de macarrão e comeu, depois pegou o segundo e nem terminou. Ele queria saber se a mãe estava falando sério mesmo.
Então ele pediu para ver Youtube, coisa que a mãe nunca tinha deixado na vida. Eles viram Youtube juntos, conversando. Quando tocou o alarme, ela encerrou o Momento Especial. Ricardo então falou:
“Mãe, eu gostei muito. Podemos fazer uma vez por ano?”.
Roberta não conseguia acreditar. Ela se deu conta do valor de 15 minutos completamente focados.
Como eu havia alertado, depois do Momento Especial é normal a criança pedir algum limite para poder extravasar, pois agora ela estava cheia de amor e segurança. Então o sistema límbico dá o comando para aproveitar e se livrar de emoções que estão estagnadas.
Ricardo disse que não iria tomar banho. Roberta com calma disse “Você vai tomar banho”. Ele repetiu várias vezes que não ia e ela apenas manteve o limite, sem explicar ou ameaçar. Ele então começou a chorar e dizer que não queria, que a mão estava doendo. Ela manteve o limite e escutou o choro, entendendo que ele não estava chorando porque tinha que tomar banho.
Ele estava usando o banho como a gota d 'água necessária para botar para fora as emoções sentidas em outras ocasiões. Depois de chorar por alguns minutos ele se acalmou e entrou no banho. Ao sair, a mãe falou que era hora de irem para a casa do avô. Ele então disse num tom tranquilo:
“Minha mão está doendo. Posso ir com o papai no médico e depois encontramos vocês no vovô”.
Percebam como uma criança conectada consegue ter boas idéias que contemplam todos os envolvidos. Roberta e o marido aceitaram.
Aquela frase do começo do texto foi a mensagem que Roberta me mandou quando Ricardo voltou do médico. Vou colar aqui para você não precisar voltar lá no começo:
“Fazia tempo que eu não via o meu filho assim: brincalhão, alegre, leve, falante, curioso, carinhoso, cuidadoso…foi surreal….muito legal Marcelo, muito, muito legal!”
Isso significa que está tudo resolvido e que Ricardo não terá outros episódios de raiva? De forma alguma. Isso é só o começo de uma jornada. Ricardo vai passar por muitas situações ao longo da vida. Quanto mais ele puder expressar suas emoções em locais seguros com pessoas que o amam e nas quais ele confia, melhor. Fazendo isso Ricardo se tornará um adulto mais seguro, conectado, empático e criativo. E assim, poderá lidar melhor com os desafios que a vida certamente irá jogar em sua direção.
(Se você chegou até aqui, obrigado por ler até o fim. Você tem interesse em conhecer mais sobre as ferramentas do Parenting by Connection? Se sim, escreva um email para marcelom@marcelomichelsohn.com com o assunto "Ferramentas de Conexão" e eu vou te enviar um resumos sobre as ferramentas.)
(Aviso importante: Os textos publicados neste blog têm como objetivo compartilhar informações, experiências e reflexões relacionadas à terapia alternativa ou complementar. Eles não substituem aconselhamentos profissionais, diagnósticos ou tratamentos médicos e psicológicos. Caso você enfrente qualquer problema de saúde física ou mental, é imprescindível procurar a orientação de um profissional de saúde qualificado.)
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