Dicas práticas para aumentar a conexão e diminuir a rivalidade
Uma das coisas que mais me tira do sério é quando vejo meus filhos brigando. É uma reação emocional tão forte que tenho que me segurar para não gritar com eles. Posso dizer que foi vendo uma briga entre meus filhos quando eles tinham 3 e 1 anos de idade, e percebendo minha reação exagerada, que eu decidi dedicar minha vida a me transformar como pai e como ser humano.
Segundo o livro “Siblings Without Rivalry” das autoras Adele Faber e Elaine Mazlish, nós pais não nos damos conta do impacto que um irmão tem na vida do outro e não adaptamos nossas regras, princípios e ações de acordo.
Uma das dicas mais preciosas do livro é criar brincadeiras ou aproveitar situações nas quais os filhos se unem contra você. Dessa maneira, ao invés de ficarem constantemente em competição entre eles, o foco muda para ganhar de você. E para ganhar de você, é melhor eles se unirem, pois unidos são mais fortes, inteligentes e tem mais recursos.
Histórias de Conexão Entre Irmãos
Quando meus filhos eram menores (5 e 3 anos de idade), criamos uma brincadeira espontânea na qual eu estava de pijama com uma calça comprida e larga andando pela sala e aí eu dizia algo como: “acho que vou ver se o quarto de vocês está arrumado”. Essa era a dica para eles saírem correndo atrás de mim e agarrarem minha calça gritando: “Não! Fica aqui!!!!” e os dois me agarravam pela calça para não deixar eu andar. Eu lembro de ouvi-los gritando: “Pega daquele lado. Não deixe ele chegar no corredor”. Eles instantaneamente viravam um time e agora tinham que cooperar. Como bônus, a minha calça sempre caia e eles morriam de rir de me ver de cueca. A gargalhada é uma forma de extravasar emoções e além disso aumentava a ligação entre os dois.
Ontem, aconteceu algo semelhante e foi daí que veio minha ideia para escrever este texto. Era hora de dormir. Vi um taco de plástico apoiado na porta do banheiro do lado de fora. Pergunto pro meu filho o que era aquilo e ele responde que era uma armadilha. Quando a porta abriu, o taco caiu, ele entrou correndo no banheiro e passou uma tinta vermelha no braço da irmã que tinha acabado de escovar os dentes. Lembrem-se, eles tem 14 e 12. Ela deu risada e ele me explicou que ela tinha passado pasta de dente no braço dele.
Então minha filha disse que meu filho fingiu ser eu para fazê-la abrir a porta do banheiro. Ela disse que ele imitou minha voz e, para ilustrar, ela fez uma voz grossa e disse: “Abre, aqui é o papai”. Nessa hora percebi uma oportunidade de uni-los contra mim. Olhei para o meu filho e disse: “Você está me zoando” e eles começaram a rir da minha cara. Então começaram a me zoar ainda mais, dizendo que quando eu vou em certos lugares eu tento falar com o sotaque do lugar, por exemplo o “r” do interior de São Paulo e me atrapalho todo pois ainda tenho um pouco do “r” do Rio de Janeiro. E cada um começou a imitar uma palavra que falo com esse “r” engraçado.
Eu entrei na onda e disse: “Agora os dois estão me zoando?!?”, nessa hora minha filha já estava rolando no chão de gargalhar e meu filho continuava imitando a minha fala cada vez de forma mais ridícula. Foi uma delícia. Todos rimos.
Aos poucos fomos acalmando. Dei boa noite para os dois e fui para o meu quarto. Fiquei ouvindo os dois conversando um pouco mais e me veio um sorriso gostoso no rosto ao perceber como os irmãos se gostam e curtem a presença um do outro.
A Origem da Rivalidade entre Irmãos
Para entendermos a rivalidade entre os irmãos, Faber e Mazlish pedem para imaginarmos a seguinte situação: um casal vive sua vida bem feliz. Um dia o marido chega em casa com uma outra mulher e diz para a esposa: querida, ela agora vai morar conosco e tudo o que é seu será dividido com ela, inclusive, teremos pouco tempo só nós dois a partir de agora (quando elas escreveram o livro a ideia de relacionamentos abertos e trisais ainda não estava na moda).
As autoras pedem para nos imaginarmos na posição da esposa e sentirmos o que ela sente com essa notícia: tristeza por ficar mais tempo sozinha, raiva por ter que dividir objetos e uma dor por ter perdido a atenção exclusiva. Isso é o que os filhos mais velhos sentem com a chegada do irmão mais novo. E, não existe preparação no mundo que ajude a diminuir a dor de perder grande parte da atenção do país. É importante falar que não vejo essa situação como algo negativo. Faz parte da vida e da experiência de ser um irmão mais velho.
Hábitos de Criação Que Intensificam a Rivalidade
Existem maneiras de criar os filhos que exacerbam essas dores e outras que ajudam a lidar com a mesma. Um dos principais erros na nossa forma de pensar e agir, é a ideia de que para sermos justos, temos que dar as mesmas coisas para todos os nossos filhos. Por exemplo, se há 3 pedaços de bife no almoço e temos dois filhos, devemos dar um e meio para cada um. Na minha casa, essa noção de justiça era levada ao extremo com uma prática chamada “um divide e o outro escolhe”. Isso significava que se eu cortasse o terceiro bife no meio, quem escolhia a metade era o meu irmão.
Em tese, essa prática deveria levar a pessoa cortando a querer ser o mais precisa possível, para que não fosse prejudicada quando o outro escolhesse. Porém, o resultado foi inesperado e indesejado. Eu, como irmão mais velho, comecei a desenvolver técnicas de dissimulação e enganação para convencer meu irmão mais novo a pegar a metade menor. Eu cortava o bife de maneira desigual e dava dicas de que eu queria o pedaço menor, para então ele escolher o pedaço que ele achava que eu queria, para então eu ficar com o pedaço maior e ainda dar risada dele. Ou seja, isso aumentava o senso de competição entre nós.
Fora essa questão do aumento da competitividade, existe o problema da necessidade. Eu e meu irmão nem parávamos para pensar se estávamos com fome e se realmente precisávamos daquela quantidade de bife. Não importava se eu estava em uma fase de crescimento e naquela semana estava sentindo mais fome, ou se meu irmão tinha acabado de comer um pedaço de queijo antes do almoço e já estava satisfeito. O foco não era no nosso corpo e nas nossas sensações de saciedade. O foco era em uma noção abstrata de justiça e na consequente competição para ver quem levava a melhor.
Antes de continuar, gostaria de explicar que eu e meu irmão temos uma relação incrível hoje em dia. Moramos na mesma cidade, nos falamos com frequência e nos encontramos, só eu e ele, semanalmente para um café com conversa. Também é importante falar que meus pais estavam fazendo o melhor que podiam para criar dois meninos e ao mesmo tempo trabalhar. Eles não tinham acesso às mesmas informações e às mesmas oportunidades de desenvolvimento pessoal que temos hoje em dia.
A figura abaixo mostra a diferença entre igualdade e equidade e deixa claro que em muitas situações, as necessidades das pessoas são diferentes e portanto as soluções para que o resultado seja equitativo, devem ser desiguais. Para que todos assistam ao jogo (resultado equitativo), os recursos devem ser distribuídos de forma desigual.
Alternativas Para Criar Irmãos Conectados
O irmão mais novo nunca experimentou atenção exclusiva e portanto ele não sente falta e não necessita deste tipo de atenção. Já o irmão mais velho teve esse tipo de atenção e perdeu quando o irmão mais novo chegou. Portanto, para tratar os irmãos de forma equitativa, é importante oferecer pequenos momentos de exclusividade para o irmão mais velho. É claro que o irmão mais novo merece e se beneficia de momentos exclusivos com um ou os dois pais, porém é importante sempre oferecer um pouco mais para o irmão mais velho.
Aqui em casa, eu faço gestos que podem parecer simbólicos mas que fazem toda a diferença na dinâmica entre meus filhos. Por exemplo, nas manhãs de sábado eu faço pão na chapa para eles (virou uma espécie de ritual familiar). Eu coloco um pão em cada prato, pego os dois pratos, vou até a sala, paro com os dois pratos na frente da minha filha (a mais velha) e pergunto: “Qual você quer?”. Ela escolhe e eu dou o outro prato para o mais novo. Eles tem 14 e 12 anos hoje em dia. Eu comecei a fazer isso quando tinham 10 e 8. Muitas vezes minha filha pega o prato com o pão menor e mesmo quando pega o maior em nenhum momento meu filho reclama. Na verdade, ele não está nem aí. Está feliz que tem um pão gostoso pra ele. E, se ele come e continua com fome, me pede mais um e eu faço.
Se os seus filhos estão acostumados a dividir tudo ao meio, eles podem estranhar quando você mudar de atitude, porém no longo prazo, vale a pena a mudança. E quanto antes melhor. Faça um teste. Por exemplo, você pode começar com algo mais simples como, servir a bebida sempre na ordem do mais velho para o mais novo. Todos vão ganhar a mesma quantidade mas você está mostrando para o mais velho que ele tem prioridade. Perceba a reação de cada irmão.
Pode ser que seu filho mais novo reclamar no começo. Tudo bem! É um bom momento para colocar o limite e ouvir as emoções dele. Se você não sabe como fazer isso, explicarei em textos futuros e em breve abrirei um grupo de apoio para mães e pais com acompanhamento diário para quem quer ter uma vida mais tranquila e alegre, melhorando a relação com os filhos. Clique no botão abaixo para responder 5 perguntas e me ajudar a criar uma oferta que atenda suas necessidades.
Se quiser conversar comigo sobre atendimentos relacionados aos filhos, à questões de relacionamento de casais ou de desenvolvimento pessoal, escreva para marcelom@marcelomichelsohn.com
(Aviso importante: Os textos publicados neste blog têm como objetivo compartilhar informações, experiências e reflexões relacionadas à terapia alternativa ou complementar. Eles não substituem aconselhamentos profissionais, diagnósticos ou tratamentos médicos e psicológicos. Caso você enfrente qualquer problema de saúde física ou mental, é imprescindível procurar a orientação de um profissional de saúde qualificado.)
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