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Foto do escritorMarcelo Michelsohn

Espelho, espelho meu: como extrair o melhor de um mau encontro

Atualizado: 6 de mai.




Hoje, resolvi compartilhar com vocês uma prática que uso muito na minha clínica. Eu a chamo de Espelhamento. Quando um analisando começa a me contar uma história e passa a criticar, julgar, culpar, apontar o dedo para alguém, eu interrompo o relato e geralmente digo algo como: "Não vamos nos distrair com fulano. Vamos usar essa oportunidade que ele te deu, para trabalhar em você." O modo de vida ressentido é fruto de pelo menos dois mil e quinhentos anos de despotencialização. Ele é necessário para uma sociedade que pretende extrair o máximo de valor dos seres. Seres ressentidos não assumem responsabilidade pelo que acontece em suas vidas e passam o tempo inteiro fora de si, procurando culpados. Sempre o culpado é um outro, desde o marido ou a esposa até o presidente do país, ou além, até deus e o diabo.


Sempre que temos um encontro que nos despotencializa (diminui nossa capacidade de sentir, pensar, agir e desejar), significa que não tivemos forças suficientes para extrair deste mau encontro, o necessário. Maus encontros acontecerão ao longo da vida de todos nós. São inevitáveis. O que podemos modificar é nossa relação com eles. Ao invés de virarmos vítimas e nos ressentirmos, podemos usar esses encontros para liberar crenças e transmutar emoções. Como? Uma possibilidade é fazer o espelhamento. Veja abaixo como fazê-lo, mas não se prenda aos detalhes. Se você criar uma outra maneira de fazer, ótimo. Vamos lá.


1- Depois que o encontro ou a situação ruim aconteceu (minutos, horas, dias, semanas, meses ou anos depois), vá para um lugar tranquilo onde ninguém vai te incomodar por pelo menos 5-10min.


2- Traga a cena para sua mente. Visualize o acontecido. Sinta seu corpo. Perceba sua emoção. É raiva, medo, tristeza?


3- Olhe para a pessoa e faça um julgamento. Ele é um …” pode xingar. Por exemplo: "Ele me criticou na frente dos amigos. Ele é um idiota!"


4- mentalmente vire-se de costas para cena e imagine uma tela branca ou uma paisagem na sua frente e diga “eu sou ….” Use a mesma palavra com a qual você julgou. Por exemplo: "Eu sou idiota". Não fale essa frase como uma auto-critica. Se vier uma auto-critica, apenas perceba. Ao usar a palavra pra você, não significa que você é igual a ele ou fez exatamente o que ele fez. Mas se você viu essa característica nele é por que em algum nível, de alguma forma ela existe em você. Todos nós já fomos idiotas em algum momento da vida, certo?


5- agora repita apenas a palavra em varias velocidades e entonações até que ela perca o sentido ou fique engraçada.


6- respire fundo e traga a cena original para sua mente e perceba o que você sente neste momento (não tente sentir o que sentiu durante a cena original ou durante a primeira recordação neste exercício) perceba seu corpo agora.


7- recomece o exercício, sentindo e julgando novamente a pessoa. Repita o ciclo inteiro umas 3 vezes. Pode ser que na segunda rodada, você não veja um idiota e sim uma pessoa querendo aparecer para os amigos. Pode ser que você diga que ele é um inseguro. Faça o exercício com essa nova palavra e perceba que sem ele estar presente, sem que nada de concreto tenha sido feito, sua emoção e seu julgamento mudaram. E isso é tudo o que você pode fazer. Você não vai conseguir mudar a outra pessoa. Você só tem acesso às suas crenças e emoções e são elas que precisam ser liberadas ou transmutadas.


Sem que você busque atingir um resultado, sem que você tenha expectativas, esse exercício vai modificar seu estado. É possível que se você repetir 3 ou mais vezes você entre em um estado que algumas pessoas descrevem como vazio, confusão ou lentidão. Se isso acontecer, apenas aproveite. Não tente entender por que, não tente sair dele e nem se prender a ele. Apenas fique.


Durante esse estado, se não criarmos expectativas, é possível que surja um pensamento na sua mente, vindo de um lugar diferente do normal. Vamos chamar isso de intuição ou insight. Pode ser que venha algo tão simples quanto: “beba um copo de água” . Se você puder e for seguro, aceite esse comando e faça. Tente fazer percebendo seu estado. Pode ser que seja um comando assim “fale exatamente essa frase para fulano”. Se você conseguir e for seguro, faça.


Isso significa que você saiu da maneira de viver padronizada e habitual e entrou num modo de vida intensivo e potente. Não se apegue a ele pois o mesmo vai desaparecer, ou melhor, variar.


Quanto mais você fizer o exercício e agir conforme estes comandos, mais seu modo de existência vai mudar.


Mas seu ego, sua identidade vai se sentir atacado e fará de tudo para você não fazer o exercício. Vai te dar preguiça, esquecimento. Vai te dizer que é bobagem. Tudo bem. Quando ele fizer isso, apenas perceba e afirme o que está acontecendo: “estou criticando o exercício. É isso que estou fazendo agora. Isso não é bom nem ruim, certo ou errado. É o que está acontecendo. “ e então pode surgir outro pensamento ou outra sensação. Apenas observe e afirme. Isso, por si só, já é um exercício.


Se você quiser, me escreva (marcelom@hey.com) contando sobre suas tentativas ou dificuldades de fazer o exercício. Me conte a situação que ocorreu, como você fez o exercício e o que sentiu, pensou e fez. Quero fazer uma coletânea de exemplos para ajudar a refinar a prática do espelhamento a partir de casos reais que tratarei com toda confidencialidade.

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