Uma Lição de Autonomia e Responsabilidade

Querer tudo o que nos acontece, não importa se julgamos como positivo ou negativo, é viver um modo de vida potente. Não tem nada a ver com aceitar e se submeter, mas sim com afirmar o acontecimento e utilizar suas forças para aumentar nossa potência de vida.
Essa semana assisti ao filme "O Crime é Meu" junto com minha filha em um cineclube no Rio de Janeiro. Foi a primeira vez dela em um cineclube, mas isso é papo para outro texto.
Não conseguirei escrever o texto sem dar alguns spoilers sobre o filme, então, se você tem alguma chance de vê-lo e não gosta de spoilers, pode parar por aqui. Mas saiba que estes spoilers são apenas da primeira parte do filme. Vale muito a pena assistir.
No filme, que se passa na Paris de 1935, a protagonista, uma atriz em início de carreira, vai até a casa de um produtor famoso que havia prometido um papel importante em sua próxima montagem. Chegando lá, o produtor oferece um papel secundário e ainda tenta estuprá-la. Esse é o primeiro dos maus encontros.

Horas depois, um policial bate a porta da atriz, que vivia em uma kitnet com sua amiga advogada, perguntando se ela esteve com tal produtor e anunciando que ele estava morto. O policial começa a desconfiar seriamente da atriz. Este é o segundo mau encontro.
Ela é chamada para depor como testemunha, porém durante o depoimento torna-se a principal suspeita, pois o delegado já havia decidido que ela era a culpada. E então a tríade de maus encontros se completa.
A protagonista pensa em se matar e quase leva a cabo esse plano, mas sua amiga a impede. Quando tudo parece perdido e quando não há mais nada a perder, a razão sai de cena e as amigas entram numa linha de criação.
Voltam à delegacia e falam sobre o fato do produtor tê-la atacado e dela não ter roubado nada dele. O delegado então diz que isso pode ser considerado legítima defesa e portanto ela, ao ser julgada, teria chance de nem cumprir pena de prisão.
A atriz se levanta e diz: "Eu sou culpada. Eu matei ele em legítima defesa". Ela é levada a julgamento e sua amiga advogada a defende. Elas criam discursos brilhantes sobre o abuso contra mulheres, incluindo o fato de não poderem votar e não ganharem salários iguais aos dos homens. O julgamento é noticiado por todos os cantos e quando sai o veredito de "legítima defesa" a atriz já tem dezenas de ofertas para estrelar em peças e filmes. Sua amiga advogada passa a ser requisitada para defender outras mulheres.

Os maus encontros levam a maioria das pessoas ao buraco, pois nosso hábito é nos fazermos de vítima das circunstâncias, é culparmos o outro, é reclamarmos da injustiça do mundo e ficarmos clamando e lutando por justiça.
Ao afirmar: "O Crime é Meu!", a protagonista assume total responsabilidade por sua vida. Ela reivindica tudo o que estava acontecendo com ela, inclusive o fato de ser falsamente acusada. E é a partir dessa ação livre de crenças e hábitos, que ela ganha velocidade de escape e sai por uma linha de fuga potente.
Quais são os maus encontros que você não está aproveitando?
O que ainda te faz ter apego ao papel de vítima, de injustiçado(a)?
O que falta para assumir completa responsabilidade (nada a ver com culpa) por tudo que te acontece?
O que falta para gritar para você e para o mundo: "O crime é meu!"?
(O filme não acaba aqui. Há muita coisa boa pela frente. É um filme que mostra a potência das mulheres acima de tudo. Vale muito a pena assistir)
(Aviso importante: Os textos publicados neste blog não são recomendações médicas ou psicológicas. Procure alguém da sua confiança caso sinta necessidade. Se quiser marcar sessões comigo, escreva para marcelo@marcelomichelsohn.com)
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