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mmichelsohn

“Tá Na Hora de Acordar, Tá Na Hora de Deitar, Tá na Hora de Almoçar, Tá Na Hora de Jantar!”

Olhando para nossa parte que acha que “temos que”



O atendimento terapêutico pode ser morto ou vivo, pesado e emburacado (no buraco) ou leve e dançante. E essas diferenças são notórias no corpo, na fala, nos gestos e pensamentos. A terapia não é feita pelo terapeuta. Na verdade, fica até difícil falar em terapeuta e paciente, já que é no encontro desses entes que se cria um campo de possibilidades composto de forças ativas.


Saí da sessão tão vivo que meus dedos pediram pelas teclas para que a potência continuasse se efetuando em texto. E como manter essa potência se efetuando? Percebendo as forças reativas que se apresentam agora: “ninguém vai ler esse texto”, “se você não escrever no primeiro parágrafo algo importante para o leitor ele nem continua”, “se não tiver uma foto boa, nem adianta”. Observar as forças reativas no momento em que elas surgem. Nomeá-las sem lutar contra elas, sem forçar que se calem. Não estamos aqui para ser contra nem a favor delas, e sim para aproveitarmos a força e compormos com ela.


Zombar. Usar do humor e rir da Parte X, dessa força interna que se dobra sobre o próprio ser com suas críticas, com suas expectativas.





Meu parceiro de terapia (acho que nunca mais escreverei ou falarei paciente e cliente) me disse que quando a mãe bate na porta do seu quarto, sente um peso no corpo ou “ai que saco” na mente.


O som da batida da mão na porta são ondas que se deslocam pelo ar e atingem os ouvidos dele antes de qualquer significado aparecer. A mente capturada já reage de forma padronizada e gera um “saco cheio” no corpo e na mente. E esse padrão vai se incrustando no corpo desse adolescente, marcando sua relação com os pais, reduzindo sua capacidade de ação á uma reação: “que saco”.


Quando ele recebe meu whatsapp pedindo pra me contar como foi o dia (entre as sessões presenciais, nos comunicamos pelo whatsapp) a reação é: “Tenho que escrever pro Marcelo”. TENHO QUE! Isso é fruto da moral. Responder é o certo. Não responder é errado. Então eu “tenho que”. Tenho que fazer lição, tenho que tomar banho mais rápido, tenho que dormir cedo, tenho que ver menos celular. E aí esse peso vai jogando pro buraco e então….esqueço de fazer a lição, esqueço de responder pro Marcelo, fico 3 horas no tiktok. Claro! O “Tenho que” vira “Me esqueci”. E a vida torna-se um dever e um desobedecer ao invés de um devir e de um criar.


E então, o que fazer? Interromper essa parte moralista em nós, olhando e zombando dela. “Ah, olha só você tentando me levar pro buraco de novo. Muito bonito hein. Não, não não. Dessa vez você vai sozinha. Olha só eu pensando novamente que “Tenho que”! Kkkk”





Isso desmonta o moralista em nós. Aquele que está tão separado da sua potência que acha que para ser alguém tem que cumprir tarefas. E não se trata aqui de advogar o não cumprimento de tarefas, o não fazer reativo: “ah é, então agora que não faço a lição mesmo!”. Nada a ver com isso. Esse tipo de reação não só não se compõe com a força reativa mas ao se contrapor a ela vira um outro tipo de reação. Nem ser o certinho e nem o rebelde. Mas sim, criar uma outra referência.


Ao zombar da Parte X, ou de qualquer força reativa e não se deixar capturar, criamos tempo. O tempo se dilata. Parece que tudo acontece mais devagar.


“Sinta seu corpo” eu disse pra ele.


“Eu sinto um pulso”. Ele faz um movimento dos ombros ao joelho. Sim, isso é vida pulsando. Isso é criação de zona de passagem. Ele começa a sorrir. “Eu estou toda a hora pensando em outra coisa. Eu como pensando que tenho que escovar os dentes e depois fazer isso e aquilo.”


Sim! É isso que a “educação” seja dos pais, da escola, do trabalho faz conosco. Ela nos esquadrinha. Ela divide nosso tempo e assim nos desliga de nosso corpo no aqui e agora. Nos tira a capacidade de encontrar nossa potência e fazer com que ela se potencialize.


Como diriam os Titãs:


“Aa UU AA UU

Aa UU AA UU

Estou ficando louco de tanto pensar

Estou ficando rouco de tanto gritar

Estou ficando louco de tanto pensar

Estou ficando rouco de tanto gritar

Aa UU AA UU

Aa UU AA UU

Eu como, eu durmo, eu durmo, eu como

Eu como, eu durmo, eu durmo, eu como

Está na hora de acordar

Está na hora de deitar

Está na hora de almoçar

Está na hora de jantar”

(AA UU - Marcelo Fromer e Sérgio Britto)


Eu sinto um fluxo intenso pelo meu corpo e digo: “Isso que sai da minha boca foi criado por nós dois, pelo nosso encontro. Eu não sei o que vou falar nem segundos antes de falar. Essa produção é inédita e só é possível pois você está aqui. Se não, vira aula”.


Ele fala, já levantando: “Eu nem sinto o tempo passar quando estou aqui. E eu nem penso no celular.”


Criação de um tempo e de um espaço de potência, de criação.


Sinto um fluxo no corpo enquanto digito. O tempo se expande. Vem um vazio gostoso, sem medo, até caloroso. Os cachorros latem lá fora e os sons me penetram como música. Sinto a saliva em minha boca e o latido se transforma em uivo que me arrepia. Auuuuuuuuuuuuuuuuu….






(Aviso importante: Os textos publicados neste blog têm como objetivo compartilhar informações, experiências e reflexões relacionadas à terapia alternativa ou complementar. Eles não substituem aconselhamentos profissionais, diagnósticos ou tratamentos médicos e psicológicos. Caso você enfrente qualquer problema de saúde física ou mental, procure uma pessoa da sua confiança.)





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